LA MUJER MÁS INFELIZ DEL MUNDO
Hoy es el séptimo día de mi destierro. Soy la mujer más infeliz del mundo. No tengo padre ni madre. (Pero me parece bien que hayan muerto, así no serán iguales a mis tíos. No hace falta padre ni madre. Un hermano sí, por eso Isa es como mi hermana para mí, un poco burra y latosa, pero es mi hermana: si no en la sangre, sí en el corazón).
Paso los días y las noches escuchando música en la radio a pilas y escribiendo cartas. Querido José Roberto, te quiero, quiero, te quiero, te quiero, te quiero, te quiero, te quiero, te quiero. LA ROMPO. Querido José Roberto. No puedo vivir sin ti, me gustaría quedarme a tu lado, quizá como criada o cocinera o limpiabotas o lavandera o alfombra o pipa o pantufla o perro o cucaracha o ratón, cualquier cosa de tu casa no tienes por qué hablar conmigo ni mirarme. LA ROMPO. En tu lleva casa no hay cucarachas, ni perros, ni ratones. ¿Perro lleva tilde? ¿Tilde lleva tilde? Soy muy ignorante para escribirle. (Me olvido de que no sé dónde está).
No sé dónde está.
Mi corazón está hecho pedazos. El aire que respiro atraviesa una senda podrida cancerosa que comienza en la nariz y termina con una punzada en algún lugar de mi espalda. Cuando pienso en José Roberto, un rayo de luz se clava en mi corazón. Ilumina y duele. A veces pienso que mi única salida es el suicidio. ¿Fuego en la ropa? ¿Barbitúricos? ¿Salto desde la ventana? Esta noche iré a la discoteca.
Rubem Fonseca
Lúcia McCartney, 1967
Rubem Fonseca
A MULHER MAIS INFELIZ DO MUNDO
Hoje é o sétimo dia do meu desterro. Sou a mulher mais infeliz do mundo. Não tenho pai nem mãe. (Mas até acho bom eles terem morrido, para não ficarem iguais aos meus tios. Pai e mãe não fazem falta. Irmão faz, foi por isso que eu arranjei a Isa pra irmã, ela é um pouquinho burra e chata, mas é minha irmã, não no sangue, no coração).
Passo os dias e as noites ouvindo música no rádio de pilha e escrevendo cartas. Querido José Roberto eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo. RASGO. Querido José Roberto. Não posso viver sem você, quero ficar perto de você, pode ser como empregada ou cozinheira ou engraxate ou lavadeira ou tapete ou cachimbo ou chinelo ou cachorro ou barata ou rato, qualquer coisa da sua casa, você não precisa falar comigo, nem olhar para mim. RASGO. Na casa dele não tem barata, cachorro, rato. Cachorro tem acento circunflexo? Circunflexo tem acento circunflexo? Sou muito ignorante para escrever para ele. (Esqueço que nem sei onde ele está).
Não sei onde ele está.
Meu coração está negro. O ar que eu respiro atravessa um caminho de carne podre cancerosa que começa no nariz e termina com uma pontada em algum lugar nas minhas costas. Quando penso em José Roberto um raio de luz corta o meu coração. Ilumina e dói. As vezes penso que minha única saída é o suicídio. Fogo às vestes? Barbitúricos? Pulo da janela? Hoje à noite vou à boate.
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